Jussara, a sereia

lisses tapou os ouvidos com cera e mandou que o acorrentassem com firmeza ao mastro. Tudo para se defender das sereias. Todos os viajantes poderiam ter feito o mesmo (exceto aqueles a quem as sereias já haviam atraído), mas sabia-se, no mundo inteiro, que isso não ajudaria em nada. O canto das sereias é penetrante; a paixão dos seduzidos arrebentaria muito mais do que correntes e mastro: que dirá um punhado de cera. Nisso, porém, Ulisses não pensou – confiou plenamente em seus artifícios e, com alegria inocente, foi ao encontro das sereias.

As sereias, entretanto, têm uma arma ainda mais terrível que o canto: o silêncio. É imaginável que alguém tenha resistido ao canto das sereias; mas ao silêncio, certamente não. Quando Ulisses chegou, a sereia Jussara não cantou. Ulisses, contudo, e por assim dizer, não ouviu-lhe o silêncio – acreditou que ela estivesse cantando, .e que ele

Texto adaptado do conto O silêncio das sereias (1917) de Franz Kafka. Original em alemão (língua das obras do tcheco Kafka) em: http://www.lumiarte.com/luardeoutono/kafka.
As sereias, segundo a mitologia grega, habitavam os rochedos entre a ilha de Capri e a costa da Itália. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que por ali passavam. No Brasil, o mito da sereia faz parte do folclore da Amazônia: Iara (mãe das águas) é o nome da sereia brasileira.

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